GONÇALO BYRNE ARQUITECTOS
 

COIMBRA, PORTUGAL

2009-2018

 
 

coauthor: BB Arquitectos (José Barra)

 

Photos: Fernando Guerra FG+SG Photography

Reconversion of the former São Francisco Church

The rehabilitation of the former Church of São Francisco includes a vaster operation of rehabilitation and reconversion of the Convent of São Francisco into a Cultural Centre (this one being the responsibility of Architect João Luís Carrilho da Graça). Thereby the two projects share common areas, resulting in a design dialogue between both authors.

Like the rest of the convent, the church underwent the first conversion of use, following the 1834 law deactivating religious orders, transformed into a textile factory, which implied the construction of a floor on the nave, among other changes, including the removal of elements characteristic of liturgical functions. The contemporary intervention accepts the traces of the different occupations and interventions that the building testified throughout its existence. Nevertheless, it sought to restore the intrinsic spatiality of the old church’s Renaissance model. And to guarantee the perception of the original features: a single-nave church with a short transept, intercommunicating side chapels, and a choir whose dimensions and autonomy were uncommon in this type of Franciscan convents. 

The new additions looked for adapt, without intrusion, the space to multiple uses, essentially for cultural purposes. Despite the predefined organisation, the plan allows for flexibility, and the new purposes benefit from the acoustics qualities of the space. The same design guidelines presided over the intervention on the main façade. The intention was to restore the access to the building through the longitudinal axis of the church while maintaining the narthex lateral access through Calçada de São Francisco. Until the present construction works, it was the only access form. Between the narthex and the street levels, the façade had a wall, creating a cut between the building and the city around it. This wall was “eliminated” by introducing a fluid movement in which the levels gap is overcome by a wide staircase (designed with Architect João Luís Carrilho da Graça). This staircase also works as an extension of the Convento de São Francisco’s terraces, unifying the public space. This alteration allowed the church’s narthex to return to its original function as an intermediary and mediating space between the exterior and the interior. The elimination of the window frames, that filled the round arches of the first level of the façade, has also contributed to restoring the narthex's function. Still, this space can be easily enclosed (through railings) without interfering with its use or perturbing the sense of depth and shadow it has found again.

In the interior, a fluid space was created. Part of the main chapel’s floor was lowered to the same level as the transept and the nave, allowing greater flexibility in occupying the space. In the absence of the main altar, which finished off the central axis, a light structure appears. It hides various residual elements and constitutes itself as a reference element of spatial organisation.

 
 

português

 

A reabilitação do espaço da outrora Igreja de São Francisco foi pensada no âmbito de uma operação mais vasta de reabilitação e reconversão do conjunto do Convento de São Francisco em Centro Cultural (sendo esta última da responsabilidade do Arquitecto João Luís Carrilho da Graça), em que os dois projectos partilham áreas de projecto, resultando num diálogo entre os autores.

À semelhança dos restantes espaços do convento, a igreja sofreu uma primeira conversão de uso, na sequência da lei de 1834 de desactivação das ordens religiosas, tendo sido transformada em fábrica de têxteis, originando várias transformação, nomeadamente a construção de um piso sobre a nave principal e a remoção dos elementos característicos das funções litúrgicas. Sem pretender a reconstituição integral dos elementos originais ou a anulação completa das diferentes ocupações que o edifício foi acolhendo, ao longo da sua existência, a reconversão actual procurou restaurar a espacialidade intrínseca ao modelo renascentista da antiga igreja. Por conseguinte, procurou garantir a leitura formal das características originais (igreja de nave única com um transepto curto, capelas laterais intercomunicantes e um coro alto cujas dimensões e autonomia eram pouco comum nos conventos franciscanos) e, simultaneamente, adaptar, sem intrusão, o espaço a um uso múltiplo, essencialmente de carácter cultural. Não obstante a organização espacial predefinida, esta possui a suficiente flexibilidade para a sua adaptação, beneficiando, ainda, das qualidades acústicas do espaço. 

As mesmas orientações projectuais presidiram a intervenção na fachada principal. Esta passou, principalmente, por repor o acesso ao edifício através do eixo longitudinal da igreja, mantendo possível o acesso lateral pela Calçada de São Francisco, que funcionava como única forma de acesso antes das obras de reconversão. Consequentemente, “eliminou-se” o embasamento que criava um corte entre o edifício da igreja e a cidade em seu redor e criou-se um movimento fluido, no qual a diferença de cotas é vencida por uma escadaria larga (desenhada com o Arquitecto João Luís Carrilho da Graça), que funciona, por sua vez, como extensão dos terraços do Convento de São Francisco, unificando o espaço público. Esta alteração permitiu que o nártex da igreja retomasse a condição original de espaço intercalar e mediador entre o espaço exterior e o espaço interior, para a qual contribuiu, igualmente, a remoção das caixilharias, que preenchiam os arcos de volta inteira do primeiro nível da fachada. Não obstante, para resguardar este espaço sempre que necessário, optou-se pela colocação de um sistema de gradeamento, que não interfere na sua função, nem no sentido de profundidade e sombra, que providencia à imagem da fachada (ao contrário das caixilharias removidas). No interior, criou-se um espaço fluido, rebaixando parte do pavimento da capela-mor para ficar ao mesmo nível do transepto e da nave principal, permitindo uma maior flexibilidade na ocupação do espaço. Na ausência do altar-mor, que rematava o grande eixo central, surge uma estrutura ligeira que oculta os diversos elementos residuais e que se constituiu como um elemento referencial de organização espacial.