GONÇALO BYRNE ARQUITECTOS
 

Lisbon, Portugal

1994-2002

 
 

Photos: Daniel Malhão

Refurbishment of a Block in Chiado

Following the reconstruction of the blocks damaged by the great fire in Chiado of 1988 by the architect Álvaro Siza, a desire to refurbish a set of eight buildings, including their respective patios, belonging to an Insurance Company, was born, allowing a unifying intervention, even without encompass the entire block.

The original set of buildings was from a pre-Pombaline occupation with essentially organic characteristics, despite being included in the “orthogonal” grid that expanded from Bairro Alto to the downtown area of Lisbon.

After the earthquake of 1755, the first proposals pointed to a network of small blocks to maintain the permeability of the previous fabric, however, the final solution resulted from the adaptation to the new grid, originated by the opening of Rua Garrett, the preexistent situations on North that survived to the earthquake and also by the complex adaptation in a difficult topography, that is obvious in the declivity accentuated in the peripherical streets.

At the time of the intervention by our studio, the urban context was mainly characterised by 19th century buildings, forming streets with continuous and uniform fronts. A single public building, the Igreja do Sacramento, from 1772, played a strong presence inside the block through its less visible elements, the chevet and the late-Baroque bell tower.

Like Álvaro Siza's operation in the Chiado blocks, we used small-scale urban drilling to generate a new porosity, valuing a micro-environment conducive to more serene uses. At the same time, we sought to recover the memory of pre-Pombaline routes, allowing the crossing of the block interior through a double system (stairs and mechanical paths) to overcome the altimetric gap between Rua Garrett and Travessa do Carmo.

The architectural proposal defines two axis across the block. One, principal, in the direction Travessa do Carmo - Rua Garrett, and another, perpendicular, in the direction of the Rua Serpa Pinto - Rua Almirante Pessanha. Along these, there are several shops, occupying, in a general way, the ground floor along streets and backyards.

A public space and an optional path to the business spaces enjoying the visual relation with the garden and the church elements, which until now were imperceptible, open the block interior to public use. 

Above the ground floor, there are apartments and office areas in separate buildings. The parking surface occupies almost all of the basement. The external facades and the original volumes are kept and preserved, with minor redrawing and adjustment operations.

 
 

PORTUGUÊS

 

No seguimento da reconstrução dos quarteirões danificados pelo grande incêndio do Chiado de 1988 pelo Arquitecto Álvaro Siza, gerou-se a vontade de requalificar e converter um conjunto de oito edifícios pertencentes à Seguradora Império, incluindo os respectivos logradouros, permitindo uma intervenção unificadora, mesmo sem abranger a totalidade do quarteirão.

O conjunto original dos edifícios datava de uma ocupação pré-pombalina de características essencialmente orgânicas, não obstante incluir-se na malha de natureza ortogonal livre que se expandia desde o Bairro Alto até à zona baixa da cidade de Lisboa. Após o terramoto de 1755, as primeiras propostas apontavam para uma malha de quarteirões de pequena dimensão para manter a permeabilidade do traçado anterior, contudo a solução final resultou da adaptação à nova malha, originada pela abertura da Rua Garrett, pelas situações pré-existentes a norte, que sobreviveram ao terramoto, e ainda pelo complexo assentamento numa topografia difícil, patente nos declives acentuados das ruas periféricas.

À data da intervenção, o contexto urbano caracterizava-se, fundamentalmente, por edifícios do século XIX, formando ruas com frentes contínuas e uniformes, existindo um único edifício público, a Igreja do Sacramento, de 1772, de forte presença no interior do quarteirão através dos seus elementos menos visíveis, a cabeceira e a torre sineira tardo-barrocas.

À semelhança da operação de Álvaro Siza nos quarteirões do Chiado, utilizámos a perfuração urbana em pequena escala para gerar uma nova porosidade, valorizando um micro-ambiente propício a usos mais serenos, ao mesmo tempo que procurámos recuperar a memória dos percursos pré-pombalinos, permitindo o atravessamento interior do quarteirão através de um sistema duplo (escadas e percursos mecânicos) para vencer o desfasamento altimétrico entre a rua Garrett e a Travessa do Carmo.

A proposta arquitectónica articulou-se, então, ao longo de dois eixos: um eixo principal - Rua Garrett - Travessa do Carmo - e um segundo, perpendicular, no sentido Serpa Pinto - Almirante Pessanha. Nestes eixos, privilegiou-se a componente comercial ao longo do piso térreo, com ligação directa às diferentes ruas, e no piso térreo de contacto como interior do quarteirão, requalificado e transformado em jardim,  que usufrui, ainda, da presença visual da cabeceira e da torre sineira da igreja, outrora imperceptíveis.

Nos restantes pisos, optou-se por criar, em edifícios separados, zonas habitacionais e escritórios. Os pisos em cave ficaram reservados, na sua quase totalidade, a estacionamento privado e público. As fachadas principais, assim como os volumes totais, foram preservados, com pontuais operações de redesenho e ajustamento.